sábado, 19 de junho de 2010

CONSIDERAÇÕES SOBRE ALONGAMENTO E FLEXIBILIDADE.



Cuidados e precauções necessárias para o alongamento.

Para o fisioterapeuta esportivo, a restauração, ou a melhora da amplitude do movimento é fundamental em qualquer programa de reabilitação. Certamente, quando observam-se atletas/desportistas com amplitude restrita de movimento, provavelmente sua capacidade atlética estará diminuída, velocistas com encurtamento de isquiotibiais, provavelmente perderão em velocidade, pois os isquiotibiais curtos restringem flexão do quadril, diminuindo o comprimento da passada.

Discutindo a colocação do termo, entendo que alongamento é o conjunto de procedimentos e técnicas que devem ser incluídas no programa de tratamento e treinamento para melhorar a capacidade viscoelástica do músculo, melhorando a qualidade do movimento. Flexibilidade refere-se à qualidade física a ser treinada, através de métodos específicos, objetivando melhoria na performance e pode ser também definida como a amplitude de movimento disponível ao redor de uma articulação. Neste sentido, o objetivo de um tratamento com relação à flexibilidade é alterar a extensibilidade das unidades musculotendíneas, melhorando a amplitude de movimento.

Anatomicamente, percebem-se fatores que restringem a flexibilidade de um indivíduo: os músculos e seus tendões, as fáscias, os tecidos conectivos ao redor, ligamentos, cápsulas, a estrutura óssea, a gordura e a pele. Estes fatores isolados ou em conjunto favorecem contraturas e encurtamento, diminuindo o arco de movimento total. Restaurar esta amplitude é fundamental no processo de recuperação. Lembro que tanto o músculo como o tendão são compostos em grande parte por fibras não-contráteis: colágeno e elastina. O colágeno possibilita o tecido resistir às forças mecânicas e à deformação, enquanto a elastina auxilia na recuperação do músculo após o mesmo ser alongado ou estirado. O músculo também apresenta suas unidades contráteis: actina e miosina, e desta forma tanto os elementos contráteis de um músculo como os não-contráteis, contribuem para deformação e para recuperação do comprimento inicial do mesmo.

Ao discutirmos as técnicas de alongamento, devemos entender a base neurofisiológica do mesmo. O reflexo de estiramento é proporcionado pelos mecanorreceptores: fuso muscular e órgão tendinoso de golgi (sensíveis às alterações de comprimento do músculo). Quando um músculo é alongado, estes dois mecanorreceptores enviam informação sensorial à medula espinhal, que, em seguida, é conduzida ao centro cerebral superior (córtex cerebral), que devolve informação eferente para o músculo, fazendo com que este se contrai de maneira reflexa. Caso o alongamento persista por mais de 6 segundos, os impulsos do órgão tendinoso de golgi, começam a exceder ao do fuso muscular, causando relaxamento reflexo do músculo. Este serve de mecanismo protetor que permitirá ao músculo alongar sem exceder o limite da extensibilidade, o que poderia ocasionar lesões.

Atualmente, o que há de mais avançado em técnicas de alongamento é a chamada FNP (facilitação neuromuscular proprioceptiva). Nela, são produzidas contrações e alongamentos alternados em padrões diagonais de movimento e onde se trabalha mais dinamicamente e funcionalmente o músculo a ser alongado. Das técnicas principais que compõem a FNP, temos:
• Contrair - Relaxar: Ao paciente é solicitado a empurrar o segmento a ser alongado contra a resistência do fisioterapeuta. Esta técnica é bem utlizada quando verificamos rigidez muscular.
• Sustentar – Relaxar: Inicia-se com uma contração isométrica do músculo a ser alongado, contra resistência do fisioterapeuta. Em seguida, orienta-se o paciente a realizar contração concêntrica do músculo agonista a fim de alongar o músculo antagonista, técnica usada quando encontramos tensão muscular ao redor de uma articulação.
• Sustenta – Relaxa com Inversão Lenta: Contrário, inicia-se com contração concêntrica do músculo a ser alongado, para depois realizar contração isométrica do músculo antagonista. É útil quando percebe-se que o fator limitante do movimento é o grupamento muscular antagonista.
Estudos que comparam o alongamento FNP ao estático verificam um maior ganho de flexibilidade pela FNP. Sua principal desvantagem é que, geralmente, é necessário um profissional para ajudar na execução dos movimentos.
O alongamento estático é o mais comumente utilizado. Alonga-se o músculo até a barreira motriz (nível de desconforto), e mantém o alongamento por um determinado período de tempo. Estudos apontam que a maneira mais eficaz de manter este alongamento é de 15 a 30 seg repetidos de 3 a 4 vezes por grupamento muscular a ser alongado. Alongamentos que duram mais de 30 seg devem ser evitados, para evitar ativação permanente dos proprioceptorres, ocasionando desconforto e, conseqüentemente, lesões. Esta técnica é mais amplamente utilizada, pois é simples e pode não requerer auxílio. É também mais confortável, prático, seguro e eficaz.

Os alongamentos balísticos, que se utilizam de movimentos repetidos e vigorosos, produzem forças de maneira descontrolada no músculo, podendo provocar uma extensibilidade exagerada da fibra muscular, causando microrrupturas no músculos, fator este causador de lesão e limitador da performance. Esta técnica só pode ser utilizada por atletas treinados e com bom potencial muscular, pois assim não será causador de dor muscular e microrrupturas. Já para o sedentário ou destreinado deve ser evitado contundentemente, sob o pretexto de ser causador de lesões musculares.

POR QUE AQUECER ANTES DE ALONGAR?
Para que um músculo seja alongado mais efetivamente, deve-se, através de técnicas específicas, aumentar a temperatura intramuscular. Destas, percebe-se, na massagem desportiva, por exemplo, um instrumento eficaz para elevar a temperatura; pode ser realizado também um leve trote ou movimentos dinâmicos. A ação dos órgãos tendinosos de golgi é potencializada com o aumento da temperatura e também é exercido um efeito na capacidade de deformação dos componentes de colágeno e elastina. Portanto, recomenda-se que o exercício ou massagem desportiva deva ser usado como meio primário para aumentar a temperatura muscular.

FORÇA X FLEXIBILIDADE
É claro que o treinamento de força indevidamente utilizado pode prejudicar o movimento. Não há razão para se acreditar que o treinamento de musculação possa prejudicar a flexibilidade. O treinamento de força bem executado, provavelmente melhora a flexibilidade dinâmica e, se combinado com programa de alongamento eficaz, pode aumentar a amplitude de movimento, essencial para muitas atividades desportivas.


ATENÇÃO AOS ALONGAMENTOS?
CUIDADOS E PRECAUÇÕES.
• Antes de um alongamento vigoroso, faça: uma massagem desportiva, se houver possibilidade é claro, pois melhora a condição viscoelástica da musculatura aquecendo-a previamente seguido de trote lento ou caminhada rápida. Não tendo condição da massagem: trote lento, caminhada com exercícios;
• Alongue só até o ponto em que a resistência ao alongamento ou um desconforto seja sentido;
• A dor no alongamento é um indicador de que algo está errado. Deve-se ter precauções importantes neste sentido, bem como evitar estiramentos bruscos e dolorosos;
• Prefira alongar na posição sentada, pois tira o estresse da coluna lombar inferior. Se for realizar em pé, pelo menos esteja bem aquecido, e sem restrições ao movimento;
• Não prenda a respiração enquanto estiver alongando, respire naturalmente;
• O alongamento balístico deve ser realizado por desportista que já sejam flexíveis, porém deve ser feito após o alongamento estático;
• O alongamento deve ser realizado no mínimo 3 vezes na semana. Recomenda-se de 5 a 6 vezes na semana para obter bons resultados, de 15 a 30 segundos, 3 a 4 vezes por grupamento muscular.
BIBLIOGRAFIA• HAAL, C. M. e BRODY, L. T. Exercício Terapêutico na Busca da Função. Rio de Janeiro. Guanabara Koogan, 2001.
• PRENTICE, W. E. Técnicas de Reabilitação em Medicina Desportiva. 3ª ed. São Paulo, Manole, 2002.

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